sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

A Filosofia Perene dos Mestres e a Felicidade na Terra

 As Igrejas e sociedades Cristãs mais esotericamente informadas foram sempre minorias. Perseguidas, não assumiram a função de transmitir às culturas onde viveram uma mensagem de espiritualidade ou fizeram-no deficientemente; não intervieram na formação de ideais aceitáveis pelo povo, e quando o fizeram produziram revoluções sangrentas porque também elas se politizaram. Não é possível reformar a Cultura sem a Religião da Trino-Sofia, o núcleo. O início da Fé Cristã foi marcado por uma violenta revolução cultural alheia ao pensamento do Mestre. A segunda manifestação de Cristo como Apolónio de Tiana, um Pitagórico, foi exemplar de respeito pelo chamado Paganismo e por todas as Religiões. Limitou-se a corrigir um ou outro aspecto mais negativo dessas expressões de Fé. E condenou todas as formas de opressão e tirania, com rigor e algum "radicalismo" benfazejo, característico dos Mestres do 6º Raio. Logo no início da Revolução Cultural Cristã (aparentemente mais política do que religiosa), houve uma ruptura com a tradição e o passado, e em Ciência Esotérica, um grande retrocesso, com graves conflitos sangrentos, por incompatibilidades de interesses. Algumas doutrinas ensinadas pelos Mestres foram rejeitadas. Perseguiram quem aceitasse as Doutrinas da Reencarnação ou Preexistência. Foram eliminadas as referências a esse factos essenciais, condenados, em 553, no Concílio de Constantinopla, por imposição do Imperador Justiniano. Infringiram os dois Mandamentos de salvação: Ser casa de Deus, Honrar os Pais, os Mestres.

O Imperador do Império Romano do Oriente, tinha razões psicológicas ligadas à sua vida privada; e encontrava eco, em desejos colectivos a que deu voz. Justiniano havia casado com a amante, filha de um domador de circo e tentou apagar o passado da imperatriz; eliminou todos os que a haviam conhecido. Os Imperadores não casavam com amantes filhas de domadores de circo! Saberia ele quanto essas mortes iriam torturá-lo? Preferiu mudar a Lei e pô-la ao seu jeito, a mudar de comportamento. Como a Lei Divina não é alterável por decretos, a Humanidade vive em conflito entre a sua realidade interior e as doutrinas exteriores transmitidas pela tradição. Tudo devido às aberrações dos poderosos e da classe educada, sancionadas pelas Igrejas!

A história inicial do Cristianismo está manchada de acontecimentos perversos. A perseguição romana aos cristãos não ocorreu por eles serem um novo credo, mas por serem terroristas que abalavam as estruturas sociais e culturais. Os Romanos eram tolerantes em Religião e assimilaram tradições gregas, persas, orientais, sem problemas. Também integrariam as doutrinas Cristãs! É hoje conhecido o facto de alguns dirigentes Romanos, incapazes de controlarem a revolução, haverem tentado opor o Mestre ao Mestre, Apolónio de Tiana a Jesus, o Cristo grego ao Cristo aramaico. 

O ensino de Apolónio (Cristo grego) era incompatível com as bandeiras ideológicas políticas dos cristãos da época, atribuídas a Jesus aramaico. Os textos do Cristo grego foram para a fogueira! Ficámos sem conhecer as prováveis jóias de sabedoria escritas pela mão do próprio Mestre. ([i])

Os Gregos também se opuseram ao Cristianismo porque acusavam a nova Fé de usar os seus símbolos e orações, como o Credo, plagiado do ritual das Escolas dos Mistérios Gregos (raízes da sua cultura), e adaptado a uma ideologia com má interpretação de factos espirituais básicos, conhecidos pela classe educada. Chegaram a enviar ao Imperador uma petição para proibir a cristandade de utilizar e adulterar os símbolos religiosos gregos como se fossem originais da sua Fé, com evidente despudor demagógico e falta de sentido da verdade.

É essencial rescrever a História à luz da teoria dos Sete Ciclos de 300 anos de uma Idade de 2160 anos (2155,6 anos). Por exemplo, o período Devocional sXII-sXV. A maioria reconhece que o sXII foi dos séculos com melhor qualidade de vida. A «renovatio» do sXII espalhou-se tanto entre religiosos como laicos. A superioridade clerical mantida através da coerção e do medo ou terror, foi posta em causa e no fim do ciclo «a religiosidade evangélica foi substituída pelo humanismo escolástico; quando o Homem Bíblico da vida apostólica foi superado pelo Homem Natural das Escolas.» Se revirem a História, com os Mestres, vêem. ([ii])

As revoluções são incontroláveis e a Revolução Cultural Cristã expandiu-se em terror e espoliação das classes capitalistas, religiosas (ditas pagãs) e culturais da época. Destruíram tudo - templos, símbolos, bibliotecas e ocuparam a grande propriedade. Em poucas décadas o Cristianismo nascente era um poder temeroso para quem não fosse cristão, sempre em risco de ser "saneado" física e materialmente. Os modelos revolucionários contemporâneos repetiram experiências do passado; nada inventaram. Continuaremos a ter de comer, sem cessar, toda a imundície que produzimos. Salmos 75:8. Quando um discípulo de S. Paulo quis corrigir os textos das Epístolas do seu Mestre, mataram-no.

A Lei do Karma rege o nosso Destino. No Ocidente está censurada nas grandes Religiões exotéricas, embora os esoteristas dessas mesmas religiões a conheçam. É a Lei das Leis, em cima; é Karma Nemesis, em baixo; e também se chamam karmas aos atributos que reencarnam. S. Paulo chamou Lei ao Karma das Leis de Descida e disse que a Lei seria superada pela Graça ou Ascensão. HPB deu na DS uma visão unitária da Lei do Karma e escreve: A Vida Una está intimamente relacionada com a lei una que governa o Mundo do Ser – Karma.”

Por outras palavras, a Unidade da Vida é a origem e a Lei do Karma, o Aio, conduz o Homo à sua origem, cumprido o Ciclo de Necessidade que é um movimento descendente de separação e ascendente de reintegração. Neste perspectiva, todas as Leis que regem o Ciclo de Necessidade, que traz as criaturas à Existência e lhes desperta a Essência, são subsidiárias da Lei do Karma, em senso lato.

A partir da diferenciação entre Essência e Existência, HPB faz distinções: «Exotericamente (Karma) é simples e literalmente “acção”, ou melhor, é uma causa que produz efeitos. Esotericamente, é uma coisa de facto diferente, no seu amplo espectro de efeitos morais. Ela é a infalível Lei da Retribuição...» HPB completa com a distinção entre o superior e o inferior: distingue entre o Protótipo Celestial do Homem e a sua reflexão mortal. Ora, a vida de cada um «está sempre de acordo com a «Constelação» sob a qual cada um nasce, digamos, com as características do princípio animador, da divindade que a ela preside, que lhe chamemos um Dhyan Chohan na Ásia ou um Arcanjo nas igrejas gregas e latinas.» Acrescenta: «Sim, o nosso destino está escrito nas estrelas! Assim, quanto mais íntima for a relação entre a reflexão mortal do Homem e o seu protótipo (entenda-se entre a Personalidade e o Eu Superior), menos perigosas são as condições externas e reencarnações subsequentes – às quais nem Buddhas nem Cristos podem escapar.» Retribuição é mais amplo do que causa-efeito: acentua a Qualidade!

Então parece haver duas”distinções”, o lado da Essência relacionado com o Campo de Energia e o lado da Existência, o da Substância. Também entre o superior, domínio da Essência, Futuro, e o inferior afim da Existência, Passado. Para concluir: « (o Homem) não pode escapar ao Destino que o rege mas... há condições externas e internas que afectam a determinação da nossa vontade sobre as nossas acções e está no nosso poder escolher uma das duas.» A Lei será de Karma (Causalidade), ou de Retribuição conforme o lado e o sentido para onde pendermos. Sentido é: ou para o Protótipo Divino, Graça, em cima, ou para o reflexo mortal em baixo. Para cima, tem a liberdade de mudar a Essência, para baixo tem a fixidez da Existência. Isso justifica o ensino de S. Paulo que chama aos Poderes de cima, da Essência, a Lei da Graça, e aos Poderes da Existência, a Lei - fixa, rígida, inamovível. Entre o superior da Essência e o inferior da Existência - está a Lei da Harmonia. Esta Lei harmoniza as flutuações, os Ciclos, e por esse Aspecto da Lei temos sempre um destino feito à nossa medida. Karma pode ser harmonizado: «O único decreto do Karma – um decreto eterno e imutável – é a Harmonia absoluta tanto no mundo da matéria como no mundo do Espírito. Todavia, não é o Karma que nos recompensa ou pune, somos nós que nos recompensamos ou punimos a nós próprios conforme trabalhamos com, pela e através da natureza, submissos às leis das quais a Harmonia depende, ou infringindo-as.»

A Neurociência abriu novos campos de conhecimento mas também novos pantanais de erros, no modo como os cientistas os interpretam, apoiados em filosofias, Descartes, Espinosa, etc., mas não na Filosofia Perene dos Mestres. O título é o mesmo da próxima bienal de Sydney, porque se o Homo inferior é bioemocional, os sentimentos, que deviam continuar misteriosos, parecem fora deste complexo e, como diz Damásio, eles são privados e inacessíveis e devem ser distinguidos da emoções. Saber que existe um Homo inferior bioemocional creio que ninguém duvida, depois de ler a introdução à Antropogénese, uma parte essencial deste estudo, pois sempre foi ensinado, não precisávamos de neurocientistas para o dizer e advirto os espiritualistas da fantasia, que a fuga para o bioemocional não é espiritualidade, é, tout court, doença. Os Mestres publicaram as directrizes através de A. P. Sinnett e H.P.B., e não se justifica que em vez de serem fiéis ao original, extraído do ensino universal dos povos e bem documentado, vão atrás de revelações não compatíveis com esse ensino e de gurus sem a experiência dos Mestres. Têm todo o direito de o fazer e eu o direito maior de não pactuar na insensatez.

Por causa da unificação inferior das estruturas da personalidade por um novo poder que lhe vem de cima - o sentimento -, Espinosa está na moda, sem que a classe educada compreenda a origem e o significado profundo do ensino de Espinosa. ([iii]) Sem conhecer a constituição do Homo total não creio que seja possível distinguir que, ao contrário do que a ciência materialista pensa, o cérebro não apareceu primeiro. O primeiro corpo do pré-Homo foi uma reflexão ou imagem de Inteligência Divina que gerou o campo de ressonância e um corpo de substância etérica e astral, à volta dos quais se formaram e geraram as outras estruturas do Quaternário. Ao contrário da regra, os Seres nasceram do Nada.

Sendo o 6º Raio relacionado com essa volição emocional nascida em baixo nos homens não desenvolvidos e, em cima, na Vontade Divina, nos desenvolvidos, a próxima Humanidade (6ª Raça) terá de ser educada pela via da Arte e sabendo as razões porque é assim. É fundamentalmente a aplicação da cinta de Paulo, deixar de ser sensível às emoções nascidas dos sentidos e do gosto e não gosto e ser sensível aos mais profundos sentimentos do nível Espiritual ou Superior do Homo. Não significa renúncia às Emoções mas uma conversão das Emoções para deixarem de ter uma origem no complexo bioemocional, dos sentidos, sensações, percepções que determinam emoções inferiores, de animal, condicionadas pela bioquímica comportamental, factores neurológicos, etc., e pela alma natural formada na Natureza e passem a ter origem nas duas verdadeiras almas humanas do Mundo Espiritual, a do Filho do Homo e a de Cristo em nós. É pela acção destas almas que nasce a obra de arte. A futura Cultura da Arte pode se entendida do modo como Jinarajadasa descreveu os Três Estádios Humanos: 1º da Paixão; 2º do Mental; 3º da Intuição. É esse novo Estádio que vos propomos alcançar.



[i]     Jean-Louis Bernard, Apollonius de Tyane et Jésus, Ed. Robert Laffont, Paris, 1978.

[ii]     Brenda Bolton. A Reforma na Idade Média. Ed. 70

[iii]    António Damásio. Looking for Spinoza. Uma nova reflexão sobre a arte, em geral, e as imagens, em particular. Ao Encontro de Espinosa. Pub. Eur.-Am.

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