Arqueólogos
descobriram o santuário budista mais antigo, no local onde se pensa que Buda
terá nascido, no Nepal.
O templo Davi visitado pelos budistas onde se encontra a nova
escavação arqueológica Ira Block/National Geographic
A
localidade de Lumbini fica a meio do Nepal, já perto da fronteira com a Índia.
O local histórico é o momento zero da vida de Buda. Pensa-se que foi aqui que o
fundador do budismo nasceu, no meio do que seriam então florestas subtropicais,
pântanos, planícies. Mas discute-se quando é que se deu esse marco basilar
desta religião oriental. As datas que os historiadores lançam para a morte de
Buda têm um grande intervalo, indo desde há cerca de 2290 anos (ano 290 a.C.)
até há cerca de 4420 anos (2420 a.C.). Mas novos achados arqueológicos do que
terá sido um santuário com arquitectura budista em Lumbini, com mais 300 anos
do que os vestígios mais antigos conhecidos até agora, determinam que o seu
nascimento tenha sido, pelo menos, há mais de 2500 (500 a.C.).
Estes
resultados sobre a figura histórica de Buda e o início da religião a que deu
origem foram publicados na revista Antiquity, nesta segunda-feira.
Há
cerca de 500 milhões de budistas em todo o mundo, naquela que será a terceira
maior religião. Para eles, Lumbini é um dos quatro locais sagrados relacionados
com a vida de Buda – os três outros estão associados ao momento da
auto-revelação de Buda (em Bodh Gaia, no Nordeste da Índia), ao seu primeiro
discurso (Sarnath, no Norte da Índia) e, finalmente, ao local onde morreu com
80 anos e onde se proclama que tenha ascendido ao nirvana (Kusinara, no Norte
da Índia).
A
narrativa budista explica que a Rainha Maya Devi deu à luz Siddhartha, o nome
original de Buda, em Lumbini, agarrada a uma árvore e que terá morrido pouco
depois do parto. Siddhartha chegou a casar-se, mas acabou por rejeitar a
riqueza e os bens materiais, enveredando por um caminho de ascetismo e
abnegação que quase o ia matando de fome. Mais tarde, procurou um meio-termo
entre a indulgência material e a abnegação total, desenvolvendo as bases do
budismo.
As
suas palavras e o que defendeu acabaram por produzir uma nova religião. Lumbini
tornou-se então num local de peregrinação durante séculos. Posteriormente, o
local foi destruído e só em 1896 é que foi redescoberto por um arqueólogo
alemão. Ao longo do século XX, foram feitas várias escavações arqueológicas que
comprovaram que aquele era, de facto, o local sagrado.
Em
1997, Lumbini passou a estar na lista dos sítios que são património da
humanidade da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a
Cultura (UNESCO, na sigla em inglês) e, novamente, um ponto importante de
peregrinação ao templo Devi.
No
site da UNESCO sobre o local está referido que Buda nasceu em 623 a.C.,
portanto, já perto do final do século VII a.C. Mas as escavações feitas até
agora tinham desenterrado ali um templo budista do III século a.C., associado
ao Imperador Asoka, do Império Mauria, que governou aquela região asiática e
teve um papel determinante em espalhar a religião budista entre os territórios
que hoje são o Afeganistão e o Bangladesh. Há muitas estruturas arquitectónicas
em vários pontos da Ásia associadas ao seu reinado. Assim, do ponto de vista
arqueológico, as provas mais antigas do budismo são relativamente recentes.
“Sabe-se
muito pouco sobre a vida de Buda, excepto por fontes textuais e pela tradição
oral”, explica Robin Coningham, professor e arqueólogo da Universidade de
Durham, no Reino Unido, um dos responsáveis pelo projecto arqueológico e um dos
autores do trabalho. Por isso, há tanta especulação sobre a sua data de
nascimento.
“Pensámos:
‘Porque não voltar a recorrer à arqueologia para tentar responder a algumas
questões sobre o seu nascimento?’ Agora, pela primeira vez, temos uma sequência
arqueológica em Lumbini que nos mostra um edifício que existia lá no século VI
a.C.”, diz Robin Coningham, citado num comunicado da National Geographic
Society, que apoiou esta investigação.
A
nova estrutura descoberta fica por baixo do templo construído na altura do
Imperador Asoka. É feita de madeira e tem uma arquitectura rectangular com uma
disposição geográfica igual aos templos budistas mais recentes, que foram
construídos por cima. Os investigadores utilizaram fragmentos de carvão e grãos
de areia para determinar a idade da estrutura, utilizando técnicas de
radiocarbono e técnicas ópticas de estimulação por luminescência.
No
meio da estrutura, há um espaço aberto onde se descobriram raízes de árvores. A
equipa de cientistas pensa que cresceram ali árvores que são muito usadas nos
templos como símbolo do nascimento de Buda. “A sequência (dos restos
arqueológicos) de Lumbini é um microcosmo para o desenvolvimento do budismo,
que passou de um culto localizado para uma religião global”, lê-se no artigo.
Notícia corrigida dia 26 de Novembro de 2013: o nome original de Buda é
Siddhartha e não Tathagata como estava anteriormente escrito.
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