Os Dez Mandamentos são necessários à vida que desce na
Matéria para não ultrapassar os limites. O Caminho dos Oitos Passos do Senhor
Buddha é um Caminho Ascensional. São Caminhos opostos dirigidos a dois tipos
distintos de homens. Ambos certos. Nos Dez Mandamentos, é visível a intenção de
propiciar experiências de sensualidade controlada. Há um Ciclo de Queda na Matéria a esgotar. Nos primeiros tempos da
formação do Homo parece haver, como em todos os desenvolvimentos ontogénicos
dos corpos e da mente, uma repetição da filogénese, uma individuação, em
base sensual e de desejos. Essa sensualidade teria por limites os dez pontos em
que a vida individual colide com as necessidades ou a existência dos outros. Já
devia ter visto que as Leis são Imperativos Categóricos, não opiniões, cumpre
bem é feliz, cumpre mal é infeliz.
Nos Dez Mandamentos nem uma palavra sobre Deus em nós. O
Deus dos dez Mandamentos é um Deus exterior ao Homo, o Deus separado da fase
Descendente na Matéria. Apenas se pede que não seja colocado nenhum Deus
exterior, acima de Deus, mas não se diz que Deus pode ser encontrado em si
mesmo, porque primeiro tem de ser vivido fora de nós para ser mais tarde
revelado em nós, o Templo fora de nós é substituído pelo Templo em nós. Logo,
as regras são diferentes conforme o estádio da mente. No Yoga que corresponde
ao treino da Ascensão para o Divino as regras são mais rigorosas e intensivas:
no Caminho de Libertação mais praticado, o do Raja Yoga; são ensinados Dez
Objectivos, sob a forma de Cinco
Abstenções e de Cinco Observâncias. As Cinco
abstenções relacionam-se com a vida Temporal, as Cinco observâncias, a experiência Espiritual das Leis Divinas, do
Eu Superior.
No Homo em Libertação, Deus existe no próprio Homo e aí deve
ser procurado. No Homem em Libertação determina-se
a abstenção do sexo; no Homem em Queda especifica-se
a não cobiça da mulher do próximo e o não adultério - a sensualidade é
condenada se contender com a vida dos outros. No Homem do Raja Yoga a sexualidade
é ilegítima como satisfação de desejos que não sejam espirituais e é um poder
difícil de alcançar. A propriedade não é desaconselhada, salvo, se for obtida à
custa dos bens legítimos do próximo. No Homem
em Queda os bens materiais são permitidos; no Homem em Libertação os bens
são apenas os indispensáveis para o tipo de trabalho a realizar.
Até a mentira é limitada à falsa invocação da palavra de
honra em nome do Senhor, do Eu Superior (III M.), ou dar falso testemunho (IX
M.). Ahimsâ, a primeira abstenção do
Raja Yoga, é em regra traduzida por não matarás e assim é expresso na
maioria das Religiões como Judaísmo, Cristianismo, Mahabharata, etc. No Yoga
também se diz o mesmo, de modo mais profundo: Ahimsâ é não
matar, mas também - não lesar, não fazer sofrer por pensamentos, palavras ou
acções. Afinal, podemos matar de muitos modos até pela difusão de ideias falsas
ou más para a revelação do Divino em cada Homo. No Geeta de Krishna vêem
que o não matar cósmico é Sabedoria de Cristo, porém, não ”matar” o Mal é matar
o Bem.
Um enigma! O 6º Mandamento de Moisés é o Cordeiro, a ligação
à consciência espiritual, a 1ª Abstenção do Raja Yoga. Em todos os tempos quem
aderir a um desenvolvimento espiritual tem de abdicar do sexo; o inverso, é
desaconselhável. A limitação sexual do Clero, com proibição de casar, é mal
entendida. Os padres ficam doentes e sentem-se “reprimidos”.
A contenção sexual foi ensinada por Jesus e por S. Paulo. Na
realidade, a união do Eu Temporal ao Eu Espiritual, necessita de uma perfeita
Libertação Sexual, porém a repressão sexual é um modo infalível de não alcançar
o objectivo. Um dos primeiros teólogos, Orígenes (185-254), que ensinou a
Teosofia Cristã, é o exemplo do que não se deve fazer. Aos 18 anos de idade
começou a praticar este saber e não era capaz de exercer um controlo sobre o
sexo, resolver castrar-se a si mesmo, para melhor cumprir as regras (Mat. 19). Ninguém se
libertará do sexo por castração; quem estiver dependente do sexo terá esse
problema sem corpo.
HOMEM EM LIBERTAÇÃO
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HOMEM EM QUEDA
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Procura
libertar-se do jugo do mental e da matéria
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Deseja
envolver-se no mental e na matéria, no «gozo» das coisas
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Deseja
silêncio, tranquilidade, sossego da mente
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Quer
excitação, movimento, sensações fortes, estímulos
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Procura em
si mesmo a paz, força e conhecimento
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Procura no
exterior a excitação, o poder e a gratificação dos sentidos
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Solidão e
ambiente pacífico são condições essenciais
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Foge à
solidão, ao encontro consigo mesmo, à tranquilidade
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