VERSOS
DOIRADOS PITAGÓRICOS
Do poeta da Sabedoria Divina, Félix Bermudes
Preparação
Presta a Deus
imortal o culto consagrado;
Conserva a tua
fé; dos vultos do passado,
Os santos ou
heróis, louva a divina acção.
Purificação
Sê bom filho e bom pai; sê justo como irmão;
Amável como esposo; escolhe como amigo,
Aquel’ que tiver luz para repartir contigo
E dê conselhos bons que o porte não desminta.
Se o jogo das paixões for cinza nele extinta,
Imita o seu exemplo, escuta o seu conselho,
Sê tu, pra reflectir, um voluntário espelho;
Jamais te afastes del’ por fútil discrepância;
Enjaula dentro em ti a fera arrogância;
Sê sóbrio, activo e casto; evita a irritação;
À raiva fecha a alma, ao ódio o coração.
Em público ou privado o mal jamais pratiques;
A quem te der lições escuta e não critiques;
Respeita-te a ti próprio; o sábio verdadeiro
Nada diz, nada faz sem reflectir primeiro.
Sê justo. As más acções são catacumbas frias
Pra sepultar, na morte, os bens e as honrarias;
Toda a riqueza é vã se foi contra um dever,
O fácil de ganhar é fácil de perder.
O cálix de amargura imposto pela sorte,
Aceita-o resignado; el’ te fará mais forte.
Em mil, fiéis ao erro, um só busca a verdade,
Mas Deus protege o sábio e livra-o da maldade.
O filósofo aprova os condena sem tédio
E onde encontrar o erro incapaz de remédio,
Afasta-te e espera. «Afasta-se e espera!»
Grava bem esta lei, medita-a, considera
Quanta inútil pendência ela pode evitar-te.
Com todos sê cortês, sê nobre em toda a parte,
Não dês exemplos maus nem os sigas tão-pouco;
Agir sem fim nem causa é proceder de louco.
Olhos e ouvidos cerra a todo o preconceito,
A todo o fanatismo ou julgamento feito
Preconcebidamente e só por teimosia;
Seja tua e só tua a razão que te guia.
Não pretendas fazer o que a tua ignorância
Não permitir; o tempo, a atenção e a constância
Hão-de trazer-te um dia o poder que te falta.
Aprender a Servir, eis a ambição mais alta
Que deve nortear a tua vida inteira.
Cuida bem do teu corpo; o trabalho aligeira
Quando ele se queixar, mas não lhe satisfaças
Apetites boçais; as dores e as desgraças
Começam quando o corpo ordena mais que a alma;
Se o serves uma vez, já nunca mais se acalma.
Do luxo ou da avareza os males são iguais,
Dif’rentes na aparência, irmãos em tudo o mais.
Procura encontrar sempre o justo médio termo,
Pois nenhum corpo é são ‘stando o mental enfermo.
Formula, ao despertar, o teu programa honesto
E nunca pra amanhã deixes ficar um resto.
Perfeição
Antes de adormecer, repassa no mental
As acções que fizeste ou pra bem ou pra mal.
Não repitas as más, insiste só nas boas,
Estende a compaixão aos brutos e às pessoas;
A cada novo esforço, a cada prova rude,
Acenderá em ti a luz duma virtude.
Assim sublimará a Tétrada sagrada,
A tua quaternária e cósmica morada,
Alma, espírito e corpo – um embrião de deus.
Procura com fervor abrir os olhos teus
À luz que vem do Olimpo; o teu esforço é vão,
Se o céu te não cobrir da sua protecção,
Só ele pode acabar as obras que começas
E dar-te, para o bem, o auxílio que lhe peças.
Estuda a natureza, aprende a lei sublime
Que rege a imensidade e que à matéria imprime
A vida universal. Perante estudos sérios,
Abrem-se pouco a pouco as portas dos Mistérios.
Então descobrirás a luz do teu destino
Que por Divino amor do nosso Pai Divino,
É vir colaborar no plano do Universo,
Com deuses de que tu és «Uno, mas diverso.
Então desprezarás todo o desejo fútil;
Verá que i sofrimento é criação inútil
Dos erros e do vício e da maldade crua,
Da torva insensatez dos outros e da tua.
O homem vive e morre a procurar um bem,
Sem nunca reparar nos bens que em si contém.
Quem não souber ser bom não sabe ser feliz,
É náufrago num mar de praias sempre hostis;
É entre o fragueado atroz que a riba lhe apresenta,
Não pode resistir nem ceder à tormenta,
Porque não descobriu que transporta consigo
Um farol pra o guiar a salvamento e abrigo.
Por entre vendavais dessa jornada ignota
Tem cada qual de abrir a sua própria rota.
Uma extirpe divina impõe à humanidade
Buscar o mar do erro o porto da Verdade;
A natureza ajuda o homem no Caminho,
Nunca o desamparou, nunca o deixou sozinho.
Homem sábio, homem bom, tu que já penetraste
Os mistérios da vida e mediste o contraste
Entre o Bem e o mal, concentra-te um momento
E medita que Deus, ao dar-te o pensamento
E muitos outros dons que reflectem os Seus,
Fez-te um ser Imortal, porque és tu próprio um deus.
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